COLHENDO O QUE NÃO GOSTARIA

on sexta-feira, 24 de dezembro de 2010




Colhe-se o que se planta. Só que muitas vezes a colheita é daquilo que não gostaríamos de possuir, mas é o resultado do que se plantou ao longo do existir.

Vivemos como integrantes de uma sociedade com características “sui gêneris”.

Uma sociedade imediatista – totalmente voltada para resultados, e ávida por soluções rápidas para as questões, como se estivesse a correr atrás do tempo sem conseguir alcançá-lo. É o aqui e agora.

Uma sociedade consumista – ansiosa na busca do ter, do possuir bens, aos quais descarta com facilidade, buscando o que de mais novo tenha surgido. Sociedade que valoriza a aparência, em detrimento da essência. Os depósitos de lixo do Japão e dos Estados Unidos acumulam eletro-eletrônicos tantos, e semi-novos, a ponto de imigrantes conseguirem montar suas casas com o que de novo encontram lá. É o descarte do que possui, para colocar a última novidade da indústria, e satisfazer o ego.

Vivemos em uma sociedade altamente competitiva. O ser humano entende que não pode mostrar fraqueza, ou fragilidade em alguma área, face à competitividade marcante em nossos dias. Tem que ser forte em tudo, porque é preciso superar a outros sempre. Mas, ao tempo em que se empenha de forma gigantesca buscando vencer concorrências, estabelecer maiores conquistas, firmar recordes, como se fora grandiosamente forte, o homem debate-se em meio a conflitos internos, mostra a sua fragilidade interior, ante a qual sucumbe cercado por todo tipo de antiansiolíticos, ante - depressivos, e muito mais. Quando à sós, em seu ambiente de intimidade, os gigantes da rua quedam-se abatidos, vencidos pela fragilidade pessoal. É nesse momento que recorrem às muitas caixas de medicamentos, buscando no poder clínico deles a força interior que lhes falta.

A nossa sociedade é pobre de afetos nas relações interpessoais. As pessoas do tempo presente, em sua maioria, não têm primado por criar laços afetivos duradouros, não têm investido tempo no cativar o outro, no abrir coração em afetos sinceros, mesmo porque o semelhante é visto como um concorrente, com quem deve disputar a posse e as conquistas, e vencê-lo. Até mesmo em família há uma disputa acirrada por ter mais, e por gastar menos; por dividir até os centavos dos gastos familiares, para que o parceiro não tenha mais, ou nem gaste menos que o outro. Hoje as coisas que se conquistam são vistas, pela maioria, como algo muitíssimo mais importante do que as pessoas, do que os entes, chamados, de queridos. Os relacionamentos são, em sua quase totalidade, pobres de carinho, pobres de atenção, pobres de uma palavra amiga, de uma atitude desprendida de interesses outros. O tanque emocional das pessoas vive vazio de amor, ou com uma carga bem baixa de conteúdo afetivo.

Há uma pobreza emocional nas pessoas, e em seus relacionamentos.

Por tudo isso, é que a preocupação, a ansiedade, a angústia, o tédio, a depressão foram marcas fortes do final do século passado e, segundo prognósticos da Organização Mundial de Saúde, o mal marcante do Século em que estamos.

De acordo com essa respeitada instituição a depressão é, hoje, o problema de saúde da maior importância, devendo mesmo ser encarada como um problema de saúde pública, por vários motivos.

Primeiro: Por estar entre as principais causas de incapacitação de pessoas no mundo. A depressão tem colocado fora de atividade um número imenso de pessoas ativas no planeta. A depressão tem sido um forte agente de paralisação de produção tanto em nível pessoal, quanto em nível de coletividade.

Segundo: Porque a depressão tem ocorrido em todas as faixas etárias. Não é mais algo que se manifeste apenas naqueles que se sentem envelhecidos e em perda de poder de realização, ela tem sido detectada até mesmo em crianças.

Terceiro: Porque a depressão tem se alastrado demasiadamente. O número de vítimas entre jovens e idosos é assombroso.

Quarto: Porque a depressão traz um significativo grau de comprometimento e de sofrimento para as pessoas em quem se manifesta e naqueles que a cercam.

Em quinto lugar, porque a depressão está associada a uma alta taxa de suicídio, de abuso de substâncias químicas e de transtornos vários, em especial o bi-polar, principalmente se não for reconhecida logo, e tratada de modo certo.

Em sexto lugar, porque a depressão traz um alto custo financeiro no que diz respeito ao tratamento, e à queda no desempenho profissional e produtivo.

E sobre tudo isso se acrescenta a dimensão do sofrimento a que as pessoas ficam submetidas, por debaterem-se em meio a angústia, à desesperança e ao forte sentimento de morte. As estatísticas informam que entre quinze e vinte por cento dos depressivos suicidam-se. Quem perde o sentido do existir, não vê por quê viver, e tende a se auto-destruir. De acordo com o que diz a OMS, a depressão está matando mais mulheres do que o câncer de mama. E estima que em dois mil e vinte será a segunda moléstia a roubar anos de vida útil da população em geral. Os especialistas na área da saúde afirmam que a cada ano vão surgir no mundo mais de dois milhões de novos deprimidos clínicos. Isso é alarmante. Concordamos que a depressão deve, realmente, ser encarada como um problema de saúde pública.

Por tudo o que foi declarado, entendo que, além do acompanhamento clínico-medicamentoso, e de tratamento psicológico que capacite as pessoas a lidarem com as questões arquivadas e que causam dor, os depressivos necessitam de um acompanhamento espiritual que lhes ajude a confiar em Deus, e encontrar nele a força necessária para administrar as adversidades, pois Ele é a fonte de todo bem; e a ver a vida por um prisma menos materialista e mais rico de afeto do que é vista hoje.

Ap. Rubem Cavalacante

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