CIÚME, UMA PROVA DE AMOR?

on terça-feira, 10 de maio de 2011

Um fator, dentre tantos outros, que cria dificuldade à união conjugal, ou a qualquer tipo de relacionamento é o cultivo de atitudes de ciúme.

Muitos relacionamentos que poderiam ser frutíferos têm sido danificados, e até destruídos, por causa desse vilão.

Há pessoas que justificam suas atitudes de ciúme afirmando ser uma prova de amor. Seria mesmo o ciúme prova de amor?

A Bíblia diz que não. Nela está escrito: “O amor não arde em ciúme”(1Co.13:4). O rei Salomão, com a sabedoria vinda de Deus, no livro romântico da Bíblia, o livro de Cântico dos Cânticos, adverte que “O amor é forte como a morte, mas frio como a sepultura é o ciúme” (Ct.8:6). Na sepultura não há nada de bom, de agradável, de útil às pessoas. Sepultura é símbolo de morte, de apodrecimento, de odor fétido, de ausência de vida. E tudo o que está ligado à morte não é ingrediente do amor, porque o amor é vida, é poder que constrói. Ciúme doentio não é ingrediente do amor. Enganam-se os que assim pensam e agem.

Por que o ciúme não é prova de amor?

Porque o ciúme é mortal, e o amor é vida. O ciúme tem a capacidade de destruir os sentimentos nobres que tenham sido construídos dentro de alguém. Ele destrói laços construtivos, e consegue separar pessoas que deliberaram se amar. O ciúme, na verdade, é uma atitude de desrespeito para com o outro.

As atitudes de ciúme, sem motivo real, são sintoma de insegurança e, portanto, uma demonstração de falta de confiança em si e no outro. Carentes afetivos, geralmente, são pessoas ciumentas porque, por falta do estabelecimento de laços firmes na infância, não desenvolveram atitudes de confiança no outro e, consequentemente, não construíram o senso de confiança em si mesmos. A criança constrói a auto-confiança à medida em que constrói a confiança naqueles que lidam com ela. A origem da insegurança está na falsificação das relações estabelecidas entre a criança e os adultos que com ela convivem. Uma criança insegura será, quase sempre,um adulto inseguro, e logo, ciumento.

O ciúme sem motivos verdadeiros é, também, uma atitude de inveja. Inveja que o ciumento sente das pessoas com quem o seu ser amado está a manter algum tipo de contato, de relacionamento. É que o ciumento crê,ver nos outros, qualidades que julga não existirem em si, mas que gostaria que fossem suas e, consequentemente, acha que o companheiro está sendo atraído por tal pessoa, em função desses supostos atributos. Isso representa para a pessoa que está em ciúmes uma derrota, uma perda, uma traição. Perda que só existe na imaginação daquele que está sentindo ciúme.

O ciumento é também alguém que vive angustiado por preservar-se sempre com a sensação de traído, de violentado, de perdedor, de injustiçado, e, a depender da estrutura da personalidade, o ciúme vai crescendo e ganhando a dimensão paranóica de “delírio de ciúme”. É o ciúme na dimensão que está descrito na música popular cantada no passado pelo Orlando Dias, que diz: “tenho ciúme de tudo, tenho ciúme até da roupa que tu vestes”.

O ciúme sem causa real é uma demonstração de possessividade exacerbada. As pessoas altamente centradas em si mesmas são ciumentas, não admitem compartilhar, e vêem o companheiro como uma propriedade sobre quem têm direito de vida e morte. Como o ciúme patológico é um terrível sofrimento, a pessoa em tal situação sente que precisa matar aquele que é, e

O ciumento é um avarento, ele pensa que o parceiro é uma parte sua sobre a qual pode agir como bem entender.

Todo aquele que vive torturado por ciúme é um desajustado. Amadureceu em certas áreas, mas é um imaturo na área da afetividade e do relacionamento interpessoal.

O ciúme sem motivo real é também uma manifestação de um profundo complexo de inferioridade, um sintoma de imaturidade afetiva, e um excessivo- amor-próprio. O ciumento é alguém em quem o desenvolvimento psíquico sofreu uma parada em sua evolução biológica e social. Provavelmente é alguém com um complexo de Édipo mal resolvido, e um superego mal construído.

O psiquiatra Antônio Mourão Cavalcante, numa entrevista para as páginas amarelas da revista Veja, do mês de Maio de 1994, afirmou que “o ciúme é um tormento psíquico, porque se origina, alimenta-se e vive de dúvidas, de suspeitas ou desconfianças”. Ele diz mais: “O ciumento é alguém com a mente atormentada; vê os fatos com uma visão distorcida e interpreta a realidade, à luz do que vai em sua mente que só percebe traição, perda e sofrimento, chegando muitas vezes a entender que, para resolver a situação dolorosa, a saída é a destruição do ser amado. Diz ainda esse psiquiatra pesquisador sobre ciúme,que o ciúme é uma paixão, por ser cego, violento e poder tornar-se obsessivo”.,

O ciumento é, na verdade, um ladrão. Ele rouba o espaço da pessoa amada, e a sufoca, impedindo-a de ser ela mesma, autêntica, espontânea. A pessoa atormentada pelo ciúme, com sua imaginação descontrolada, não sabe respeitar a liberdade do outro, e cria celas de tortura à domicílio. Não somente tortura o outro, como também se auto-tortura, por ser um desconfiado cônico, um medroso, um aflito mental.

Nenhum relacionamento consegue sobreviver em ambiente onde o clima é de tensão permanente e crescente, e o ciúme cria tensão no ambiente.

Ciúme, sem um motivo real, não é, na verdade, prova de amor, porque o amor não acorrenta, não cria trilhos, não constrói prisões. Amar, no dizer de Kalil Gibran, é dar-se.

A Bíblia vê o ciúme doentio como uma expressão de idolatria e de fragilidade espiritual. Mas aponta o amor como algo altruísta que visa o bem estar e o crescimento do outro.

Sugiro aos ciumentos de carteirinha um bom acompanhamento psicológico e espiritual, a fim de poder começar a viver e criar vida em seus relacionamentos.

0 comentários:

Postar um comentário