PAIXÃO: AMOR VERDADEIRO, OU ENGANO DO CORAÇÃO? II

on sexta-feira, 7 de outubro de 2011



A paixão é uma emoção intensa, arrebatadora, porém frágil, sem poder de firmeza, sem capacidade de manter relacionamentos duradouros.

A intensidade forte da paixão só consegue promever o início de um relacionamento, nunca a sua manutenção, e isso se houver cumplicidade por parte daquele que é o alvo da paixão.

A força da paixão não é forte o sufciciente para enfrentar reveses, para ultrapassar limitações, para aceitar o outro quando há o enfraquecimento do encanto inicial.

Apaixonar-se é estar em um tipo de enfeitiçamento.

A paixão tem sua força no encantamento que inicia ou força o relacionamento, mas, embora haja grande força, a paixão é fraca para resistir ao desencanto.

Na paixão há algo tremendamente forte: é o desejo. O apaixonado se move em função da satisfação que impregna sua mente. Quando o desejo passa a dominar de forma violenta os pensamentos do apaixonado, este perde a noção de sensatez, e parte para a busca da saciação a qualquer custo.

Paixão é uma emoção que, em geral, se manifesta de forma unilateral.

Embora sendo algo marcante em uma pessoa a quem denominamos de apaixonado”, ela pode também se instalar na alma de duas pessoas; mas o mais comum é se fazer presente em uma delas. O geralmente acontece é haver a paessoa do apaixonado, e a pessoa alvo da paixão.

O texto que narra a paixão de Amnom por sua irmã Tamar diz: “Amnon se apaixonou por tamar, sua irmã”. Não diz que Tamar nutria algum sentimento por ele ao ponto de se interessar em possuí-lo. Era, portanto, um sentimento unilateral.

Quando há cumplicidade de paixão entre duas pessoas, o risco de insensatez fica menor, a não ser que o ciúme se estabeleça com grande força em um dos parceiros. E ciúme é o que sempre surge, porque o apaixonado, por estar possuído do sentimento de possessividade, e por não sentir firmeza no relacionamento, carrega em si uma sensação de provável perda. E perda é o que ele não quer.

Quando a paixão se instala apenas em uma pessoa, o perigo de cometer loucuras é bem maior.

Outro aspecto importante: Por ser intensa, a paixão é também angustiante. Ela provoca uma sensação de aperto no peito, causando dor na alma. É a angústia.

O estado de angústia provoca um excessivo consumo das energias da pessoa apaixonada, e a enfraquece. Na história de Amnon vemos essa debilitação descrita n estado de abatimento em que ele se encontrava todos os dias, a ponto de seu primo e amigo íntimo lhe perguntar: “ ‘Filho do rei, por que todo dias você está abatido?’ Amnon lhe disse: ‘estou apaixonado por Tamar, irmã de meu irmão Absalão’”.

A paixão não correspondida pode angustiar e deprimir o apaixonado, e enquanto ele não conseguir, pelo menos estar próximo do seu objeto de apego, não sentirá melhoras.

Embora seja vista como sinônimo de amor, a paixão é, em muito, sinônimo de sofrimento. Quando a paixão não é correspondida, o apaixonado pode caminhar da angústia para a depressão, e até chegar ao ponto de se destruir pelo suicídio, ou então, destruir a pessoa por quem está apaixonado.

Além de causar angústia, a paixão pode fazer a pessoa adoecer. É que a concentração da mente do apaixonado sobre o ser alvo da paixão é tamanha, que rouba do organismo a sensação de fome e de necessidade de alimento.

A necessidade de alimento para o corpo é substituída pela necessidade de alimento emocional. Como não há nem um, nem outro, se estabelece o definhamento físico, o abatimento, a fraqueza, e consequentemente a doença. Sobre o estado de alguém assim, poder-se-ia dizer: “é um enfermo passional”.

O enfermo passional tem a capacidade de defesa diminuída, ficando vulnerável ao ataque de vírus ou bactérias e, consequentemente, doente. E quanto maior for a dimensão da paixão, maior será a gravidade da enfermidade. Este foi o caso de Amnon, o qual “ficou angustiado ao ponto de adoecer”.

Outro aspecto importante na paixão é o fato de ela ser irracional.

Por causa da intensa concentração da atenção sobre o ser alvo da paixão, se estabelece no apaixonado uma conturbação mental, que pode torna-lo uma presa fácil para qualquer tipo de idéia absurda, ou de conselho desvairado, que venha corroborar para a realização do objetivo maior, que é a posse do ser alvo da paixão a qualquer custo.

O conselho dado por Jonadabe e aceito por Amnon foi algo estarrecedor.

“ ‘Vá para a cama e finja estar doente’, disse Jonadabe. ‘Quando seu pai vier visita-lo, diga-lhe: Permite que minha irmã Tamar venha dar-me de comer. Gostaria que ela preparasse a comida aqui mesmo e me servisse. Assim poderei vê-la’. Amnon aceitou a idéia e deitou-se fingindo-se de doente’”.

Embora a paixão seja marcada pela irracionalidade, o apaixonado pode vir a premeditar e a realizar ações que são verdadeira engenhosidade mental, a fim de conseguir o seu intento de posse do ser alvo da paixão. O texto prossegue dizendo que quando Tamar veio e preparou os bolos pedidos, Amnon, tendo mandado os criados se retirarem das proximidades, solicitou ser servido no quarto onde estava deitado. E como era mais forte que a irmã, a agarrou e executou o estupro.

Muitos crimes têm sido cometidos em nome do amor, porque pessoas apaixonadas ficam tão obcecadas em possuir e usar a pessoa alvo de sua atração, que, por não conseguirem realizar mais facilmente o intento, ou por medo de perda, terminam cometendo ato homicida. É aquela idéia fixa que diz: “Se não pode ser minha, de outrem não será”. Esse pensamento leva o apaixonado a cometer atos destrutivos contra a pessoa a quem tanto desejou possuir.

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