PAIXÃO: AMOR VERDADEIRO, OU ENGANO DO CORAÇÃO? - III

on domingo, 9 de outubro de 2011


A simples paixão é irresponsável e inconseqüente. Ela provoca grande conturbação mental, e como conseqüência disso, permite o surgimento de idéias mirabolantes e, geralmente, inadequadas.

Quando alguém está loucamente apaixonado, pode cometer atitudes sem pensar no resultado que elas possam lhe trazer.

Amnon, o filho do rei Davi que se apaixonou e estuprou à Tamar, sua irmã, realizou de maneira fria e calculista o desejado, visando simplesmente ao prazer que a posse do corpo da irmã lhe iria proporcionar, sem medir as conseqüências que o seu plano acarretaria a si, e sem levar em conta a dimensão do mal que causaria a ela.

Além de ser louca, a paixão é também surda e cega. O apaixonado, no ímpeto de conseguir seus intentos, não consegue discernir os sentimentos da outra pessoa, por isso não lhe ouve o clamor. Foi o que aconteceu ao Amnon: ele não ouviu os argumentos de Tamar, não viu sua expressão de odor, nem a poupou da desgraça que o estupro provocaria. Ele estava preso tão somente ao prazer que iria usufruir. A satisfação sexual era tudo o que lhe interessava.

Quando pessoas descobrem que estão sendo alvo da paixão de outrem, e não querem corresponder, é comum que muitas delas argumentem sobre o assunto, tentando dissuadir o apaixonado de tal sentimento. Mas nem sempre alcançam sucesso. Foi o que fez Tamar tentando fazer Amnon mudar da idéia de uma relação sexual irresponsável, para um relacionamento legalizado. Em seu argumento, ela tentou convencê-lo a conversar com o pai deles e propor casamento. Mas, como a lógica nunca prevalece sobre a loucura da paixão, Amnon não aceitou a idéia, e realizou o tão desejado intento de possuí-la.

Há algo mais que gostaria de realçar: a paixão além de inconseqüente tem curta durabilidade. Nenhum tipo de relacionamento pode ser mantido à base da paixão, porque ela não tem vida longa. Da mesma forma como surge, se esmaece e desaparece, abrindo espaço para nova experiência passional.

Alguns estudiosos entendem que a paixão é um trunfo que a natureza usa, para forçar dois corpos a se aproximarem o suficiente para procriar. Para eles, a paixão tem a duração média de uma gravidez completa, e nascimento do bebê. Findo esse tempo ela começa a definhar, até ao próximo acasalamento, e geralmente, com outra pessoa.

Sobre a união de pessoas visando a procriação a Bíblia diz diferente. Ela nos ensina que os filhos são bênçãos concedidas por Deus ao casal, como resultado de uma união de duas pessoas de sexo oposto, união resultante do amor e do comprometimento que nutrem uma pela outra.

Gerar filhos não é o real motivo para que se estabeleça a paixão. A procriação, não é bem, o que querem os apaixonados. O que realmente visam é o prazer que possam conseguir na relação estabelecida. Geralmente os filhos da paixão são intencionalmente abortados, ou quando nascem, em sua maioria, são rejeitados.

As pesquisas têm demonstrado que o relacionamento apaixonado dura no máximo quatro anos, e há até quem entenda que o tempo médio da duração da paixão é de dezoito meses para os homens e de, no máximo, trinta e seis para as mulheres, podendo até ser bem menos. No caso do Amnom ela durou apenas o tempo da espera ansiosa, e da consecução do prazer sexual auferido na realização do estupro. Ato contínuo, mandou que seus criados expulsassem a Tamar de dentro de sua casa.

A paixão nunca esteve ligada a relacionamentos estáveis, e a casamentos duradouros. Ela tem estado sempre ligada à frustração de um relacionamento muito desejado, porém grandemente impossibilitado.

Em nossos dias, há pessoas que, movidas por uma paixão arrebatadora, se unem a outrem e se mantêm fiéis, até ao momento em que tal emoção começa a esmaecer. Por não concordarem com a idéia de traição, ou de abandono ao parceiro, e pelo fato de já sentirem atração por outrem, declaram fim ao relacionamento, se divorciam, e se unem em casamento com o próximo parceiro, até ao fim dessa nova paixão, e o surgimento de outra. É o que hoje se denomina de “monogamias sucessivas”. Enquanto houver atração pelo cônjuge, haverá a união conjugal. Isso quer dizer que o casamento tem a duração da paixão.

As monogamias sucessivas são uniões com intensidade emocional, com determinação de fidelidade, mas que não conseguem ultrapassar o surto da paixão. Quem tem essa compreensão da relação conjugal como algo sucessivo entende que, desejo sexual, intensidade emocional e fidelidade são bem mais importantes que sinceridade, companheirismo e carinho, marcas fortes das uniões duradouras. No verdadeiro casamento, tanto estas, quanto aquelas devem estar presentes, permeadas pelo verdadeiro sentimento de amor, e marcadas pelo compromisso expresso em forma de juramento.

Quem se apaixona por outrem carrega em si a idéia de durabilidade da relação. Não se apercebe que a paixão é forte em sua intensidade, mas frágil em sua durabilidade e, portanto, fácil de fracassar.

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